3 de julho de 2012

Jucaense, de Jucás, sim senhor!



Filho de um casal de agricultores, José Alves de Oliveira, mais conhecido como Zenir, nasceu no sítio Boa Esperança, município de Jucás, a 407 km de Fortaleza. A infância foi marcada por um acontecimento trágico: aos 2 anos, uma paralisia infantil quase o levou à morte. Zenir diz que a cura veio à custa de muita reza da mãe, Joana Alves de Oliveira. Mas a doença deixou sequelas — até hoje, aos 46 anos, o empresário tem dificuldade para movimentar a perna e o pé esquerdos. A limitação física não impediu que, ainda criança, trabalhasse na roça com o pai, Francisco Leite de Oliveira. A pequena plantação servia de sustento para os dez filhos do casal — Zenir era o mais velho entre os homens.

No sítio Boa Esperança: Zenir é o de camiseta vermelha
A esposa, Solineide Oliveira, amamenta os gêmeos
Aos 14 anos, sua vida tomaria outro rumo, graças à bem-vinda interferência de um tio paterno. Foi João Alves quem tirou o menino da lavoura. “Ele viu como o trabalho era duro e ficou com pena de mim. Daí me levou para morar com a família dele em Iguatu”, conta Zenir. Dono das Casas Alves, o tio empregou o sobrinho como faxineiro na loja de móveis e eletrodomésticos. Curioso e falante, o menino adorava conversar com os vendedores e descobrir como tudo funcionava. Três anos depois, foi promovido a vendedor, com direito a comissões sobre as vendas. “Juntei muito dinheiro ali”, conta. “Lembro que, quando decidi me casar, em 1986, comprei metade dos móveis só com o que ganhava de extras.” A escolhida foi Solineide Araújo, a quem pediu em casamento com apenas um ano de namoro. Ele tinha 21; ela, 20. Hoje, o casal tem quatro filhos: os gêmeos Alan e Alex, com 25 anos, Emerson, 19, e Ilana, 16.

Em 1992, já como gerente na loja do tio, Zenir achou que era o momento de abrir o próprio negócio: uma revendedora de colchões. “Quando falei sobre meus planos, ele aprovou, dizendo: ‘Se você sabe administrar o que é dos outros, por que não poderia tomar conta do que é seu?’”. Apesar da determinação, houve quem o chamasse de louco por abandonar um emprego seguro em um negócio familiar.

Quando o negócio completou seis meses, Zenir diversificou o mix de produtos com eletrodomésticos. “Eu não tinha poder de barganha e era difícil oferecer preços competitivos. Mas as pessoas vinham comprar comigo porque sabiam que seriam bem atendidas”, diz.

Em 1994, abriu a segunda loja, já com o nome de Zenir Móveis e Eletros. A casa ocupava um espaço de 400 m² no centro de Iguatu. O número de colaboradores subiu de três para 20. Sem talento para as finanças, Zenir buscou um especialista. Com oito anos de experiência nas Casas Pernambucanas, Francisco Bento de Souza foi escolhido para o cargo de diretor financeiro. “Aceitei o convite porque percebi o potencial da empresa”, diz Bento. “Quando assumi, o setor financeiro estava caótico. Passamos três anos trabalhando de domingo a domingo para colocar a casa em ordem”, conta.

Nesse meio-tempo, o gestor conquistou a confiança do patrão. Convenceu Zenir a vender um carro novo para reinvestir o capital no negócio e, com o início do Plano Real, recomendou baixar preços e queimar estoques, para compensar os juros altos e aumentar o fluxo de caixa. Também incentivou o empresário a abrir a terceira loja, em 1995, no município de Campos Sales, a 497 km de Fortaleza. “Devo grande parte do sucesso da rede ao Bento”, reconhece Zenir.

No balanço de sua carreira, o empreendedor atribui boa parte de suas conquistas à vontade de Deus. Proteção divina à parte, algumas estratégias foram fundamentais. A principal foi iniciar a expansão em cidades pequenas. “Não podia correr o risco de abrir uma loja em Fortaleza e não dar certo. O consumidor da capital é menos fiel, porque tem mais opções de compra”, afirma. 

Zenir e seus pais, Joana Oliveira e Francisco Oliveira
Além disso, o empresário notou uma carência de redes de varejo em municípios menores: essa percepção o levou a estabelecer como meta dominar a região. Hoje, tem 19 lojas no interior do Ceará e cinco na capital — a primeira delas aberta em 2003, com um investimento de R$ 2 milhões.

A demanda crescente acirrou a concorrência. Macavi e Rabelo são algumas das redes nordestinas que brigam por mercado com Zenir. Esta última comprou, no início do ano, a rede Armazém Nordeste, sediada no estado do Piauí. Agora, a Rabelo conta com 108 estabelecimentos no Nordeste, 63 destes no Ceará. Em 2010, a Insinuante, líder na região, anunciou a fusão com a mineira Ricardo Eletro. Juntas, têm 528 lojas no país, 21 das quais no Ceará.

Alerta aos competidores, Zenir também fez aquisições: em dezembro de 2010, comprou de seu vizinho de porta, Edvane Matias, as Lojas Mathias. O valor da transação é mantido em segredo e a incorporação está em andamento. O total de lojas subirá para 34 e o número de funcionários passará de 1.300 para 1.500. O negócio também marca a entrada da rede no estado da Paraíba. “Se tudo correr como esperado e a aceitação for positiva, continuaremos o processo de expansão pelo Nordeste”, afirma.

Na vida privada, Zenir tem hábitos simples. Mora numa casa ampla e confortável, mas sem ostentação — o maior luxo é a garagem para cinco carros. Nos momentos de folga, gosta de pescar ou ir para a fazenda onde cria 1.500 cabeças de gado, também em Iguatu. Nunca saiu do Brasil — mesmo porque, até hoje, só tirou quatro dias de férias, em 2008, quando foi para Natal (RN) com a família. A médio prazo, está nos planos de Zenir trabalhar menos e se divertir mais. O empresário prepara os gêmeos Alan e Alex Oliveira para sucedê-lo. Alan é diretor administrativo e Alex ocupa o cargo de diretor comercial — ambos cursaram administração de empresas. “Meu maior sonho é vê-los dando continuidade ao meu trabalho”, afirma.

Zenir e Solineide com o prêmio Lojista do Ano (2007)
Hoje é Zenir quem sustenta dona Joana e seu Francisco. O empresário tentou trazer os pais para Iguatu, mas eles não querem deixar o sítio. “Falei para minha mãe que ela podia escolher qualquer casa da cidade. Só que ela gosta mesmo é da tranquilidade da roça”, diz. De vez em quando, os pais vão a Iguatu para fazer uma visita. Outro dia, Zenir levou a mãe para ver o jatinho novo que havia comprado para se locomover entre as filiais — um “instrumento de trabalho”, salienta. “Ela ficou muito emocionada. Por causa da minha deficiência física, minha mãe achava que seria muito difícil eu conseguir trabalhar, ou até mesmo me casar. Hoje, tem orgulho da minha trajetória de superação”, diz.

"Uma vez no Rio Grande do Sul o chamaram para fazer parte de uma mesa solene, como se ele fosse filho de Fortaleza, e o mesmo corrigiu imediatamente dizendo que era filho do pequeno Sítio Boa Esperança, no município de Jucás, no Ceará”. Nonato Leite Gomes

Fonte: Pequenas Empresas, Grandes Negócios

7 comentários:

  1. Que história maravilhosa! Ainda tem que pense que com honestidade e trabalho não se faz grandes conquistas. Temos dois mundos. Um dos desonestos que nada fazem e ainda roubam de quem trabalha. Outros dos cidadãos que trabalham e não precisam do alheiro para subir na vida. Fico com este. Zenir, um orgulho para Jucás, um orgulho para o Brasil. Um exemplo de determinação e coragem. Parabens.
    Antonio dos Santos de Oliveira Lima
    Engenheiro Agronomo
    Natural de Augusto Severo/RN, residente em Cruz/CE
    Jornalista Amigo da Criança/Radialista/Professor/Presidente da Federação das Associações Comunitárias do município de Cruz - CE.

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  2. Não conheço pessoalmente o Sr. Zenir nem seus familiares, mas admiro a garra desse cidadão e empreendedor que nos dá lições de superação mesmo diante das adversidades. Aliás, Jucás, origens do meu avô José de Matos Leite, produziu cidadãos com vocações das mais diversas (artes, como a música, negociantes e empresários de sucesso, políticos, etc).Parabéns!

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  3. A trajetória do empresário Zenir é uma das mais belas do mundo empresarial cearense. Zenir fez jus à fortuna comercial, dirigindo uma das maiores rede de lojas do Nordeste. Parabéns ao Blog de Jucá por falar tão bem do conterrâneo Zenir.

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  4. Maria do acrmo (cacá)7 de dez. de 2012, 13:08:00

    Também, sou jucaense com muito orgulho. Nascida em Jucás filha de Manoel da calça preta e de Minininha de Manoel
    como eram carinhosamente chamados pelos por todos em Jucás. Sai de jucaá aos 13 anos, moramos em Santa Catarina há 35 anos mas não esqucemos de nossas raízes. Lutamos e trabalhamosmuito para estudar e conseguir vencer os obstáculos que a vida nos proporciona. Por isso, fiquei feliz em ler sobre a vida desse conterrãneo. "Jucaense, sim de Jucá`" Meu sempre diz que bebeu da água do rio jaguaribe jamais esquecerá das raízes, ou seja de Jucás.
    Abraços para todos

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  5. Parabéns conterranêo,exemplo a ser seguido!!determinação defini você....

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  6. Sou João Batista Nobre, nascido em bom jardim municipio de Jusás ce e criado no Sitio oitis ao lado da ponte, comessei a trabalhar em consertos de Rádios no salvador e boa esperança terra do Zenir, nesse tempo éramos meninos, Parabens Zenir com a sua sorte e vocação para um trabalho continuo para conseguir o que você almejou , que Deus te ilumine Sempre jb nobre...

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  7. amei sua historia, Parabéns!!!!!!!!

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